Sombra | Uma Vida não Vivida

publicado dia 27/09/17

Uma entrevista com Rosângela Teixeira

{ © Essencias Florais – FES Flower Essences Service – Florais da California – Imagem Cedida para Divulgacao de Produtos}

Essências Florais – O que significa o termo “Sombra” na visão de Jung?

Rosângela Teixeira – Para Jung, a Sombra é “a coisa que uma pessoa não tem desejo de ser”. De forma bem prática, Sombra é o nosso “porão” onde jogamos tudo o que é muito penoso sentir. São os nossos monstros internos disfarçados de raiva, inveja, medo, ciúmes, ambição, vergonha, culpa… que a nossa consciência não consegue lidar. Jung era bastante consciente da realidade do mal na vida humana, por isso dizia que nossa tarefa não é atingir a bondade, mas a integridade e unidade. 

“É melhor ser íntegro que ser bom”, dizia. Para ele, nossa tarefa é unir os opostos, lutar para recompor nossa unicidade perdida quando, um dia, acreditamos que temos que ser bons. A integridade de Jung é aceitar que temos um lado claro e um lado sombrio. A mesma pessoa é capaz de atos generosos e também de sentir ciúmes, raiva, inveja, preconceito, precisamos aceitar que somos assim. Por isso, se quisermos ter uma vida de qualidade, devemos conhecer essas partes separadas, enterradas, projetadas. Esse é o trabalho interno que todos nós precisamos realizar, o trabalho com a Sombra.

 

{ © Essencias Florais – FES Flower Essences Service – Florais da California – Imagem Cedida para Divulgacao de Produtos}

 

Essências Florais – Onde e como se forma a sombra?        

Rosângela Teixeira – A Sombra se forma na infância, em nosso ambiente familiar. O “nascimento” da Sombra se dá devido à falta de entendimento e aceitação que vivenciamos em nossa família de origem. “Aprendemos” muito cedo que sentir raiva, medo, ansiedade, desejo era “feio”. Assim, crescemos sem ferramentas internas para lidar com essas situações. Com a melhor das intenções, os pais pedem que se “Engula o choro!” e não “Chore, filho, pode chorar”. A tristeza, a raiva ou o medo que uma criança sente é legítimo, e é preciso legitimá-la, esta é a nossa tarefa como pais. Nenhum sentimento, nenhuma emoção, nenhum impulso que se possa sentir é errado. O problema não são os pensamentos ou sentimentos, mas o que é feito com eles. Nossa tarefa é ensinar às crianças que elas podem sentir raiva da irmãzinha, sim, afinal, ela tomou seu brinquedo. Mas isso não quer dizer que ela pode ir lá e bater nela. Na verdade, nenhum de nós foi “treinado” para lidar com a Sombra, por isso é tão difícil reconhecê-la, que dirá aceitá-la, mas muitos não sabem: junto daquilo que não foi permitido sentir, vai embora também “OURO”, talvez para sempre.

 

 

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Essências Florais – Por que se diz que na Sombra tem “ouro”?

Rosângela Teixeira – A Sombra guarda muitos talentos e dons que estão ali enterrados. Uma criança que aprendeu a “engolir o choro” guardou na Sombra muito da sua sensibilidade. Uma criança que reprime a raiva varre para a Sombra a ação assertiva que ela trouxe como talento. A criança medrosa aprende muito cedo que o melhor a fazer é não correr riscos. Foi para a Sombra toda a versatilidade, espontaneidade e criatividade que trouxera como dom. “Eu nem sei onde está a minha criatividade”, escutei de um cliente. Verdade! Pode-se viver uma vida sem descobrir. Uma vida não vivida, com certeza! Assim vamos nos tornando apenas uma pequena fatia de nós mesmos.

Essências Florais – Como você vê a Terapia Floral atuando nesse âmbito interior que chamamos de SOMBRA?

Rosângela Teixeira – A Terapia Floral é um belo trabalho de autopercepção que conduz ao autoconhecimento. Não acredito que exista um recurso mais apropriado para se trabalhar a Sombra do que o uso dos Florais. O “CURA-TE A TI MESMO” que Dr. Edward Bach deixou para nós como filosofia dessa nossa querida terapia, precisa antes passar pelo “CONHECE-TE A TI MESMO”. Sem consciência não há mudança. Sem consciência, as coisas não vão tão bem.. A Terapia Floral consiste num processo terapêutico, onde os florais agem como se fossem “lanternas” iluminando esse lado escuro, desconhecido e ameaçador que surge “vestido” de sentimentos como raiva, rejeição, culpa, vergonha, etc. O trabalho da Sombra com os florais pede, em primeiro lugar, que eu pare de culpar o outro e passe a enxergar meus impulsos inconfessáveis como professores. Começa aqui o processo de mudança. A Terapia Floral NÃO tem poder de transformar a Sombra, porque não é esse o trabalho. As essências florais irão despertar a necessidade de dialogar com ela, alertando para as questões que nos afetam de maneira mais profunda. Só assim poderemos transcendê-las e aí, e só aí, elas perderão força. A Terapia Floral me transforma no melhor amigo de mim mesmo, quando desperta em mim a compaixão pelo que vivi, por minhas dores e minhas feridas. Afinal, essas são as minhas feridas e o resultado do meu sofrimento e não faz sentido brigar com alguém por estar ferido, faz?

 

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Essências Florais – À medida que estamos no processo de conscientemente permitir nossa Sombra vir a tona e damos expressão a ela, estamos correndo algum tipo de perigo?

Rosângela Teixeira – Eu preciso dizer que nossa Sombra vem à tona, mesmo sem permissão. É ingênuo e imaturo acreditar no contrário. Quanto mais inconsciente eu estiver dela, mais domínio e controle ela tem sobre mim. O melhor que tenho a fazer é olhar para esses lugares escuros dentro de mim. Atos falhos, agressões físicas e verbais, preconceito, ansiedade, sarcasmo, são apenas alguns exemplos de como a Sombra tem poder de nos invadir e ao outro também. Ela rompe a consciência, humilha, envergonha e não sabemos o que fazer com ela. Negá-la por medo de enfrentá-la é como não ir ao médico por medo do diagnóstico e com certeza, a doença não vai desaparecer só porque não comparecemos à consulta. Para tentar impedir que nossos demônios internos saiam por aí desgovernados, só tem um jeito: prestar atenção neles.

Essências Florais – Como entramos em contato com ela quando ainda não a reconhecemos?

Rosângela Teixeira – As dores e traumas guardados estão em algum lugar da nossa psique, esquecidos, negados, empoeirado pelo tempo, mas vivos. Esses conteúdos “choram” por nossa atenção como crianças birrentas, cutucam o Ego, o ameaçam, fazem um barulho enorme querendo chamar nossa atenção. Se não tornarmos nossa Sombra o mais consciente possível, ela dará um jeito de sair do seu “esconderijo” e se infiltrar em nossas ações, como naquele dia em que você se pega gritando com alguém, quando um pai ou uma mãe, num dia de raiva, bate no seu filho, numa piada homofóbica, num comentário machista usando a desculpa de que “é só uma brincadeira”. Ela tem poder de sabotar nossos planos, quando comemos ou bebemos demais. A Sombra também pode se manifestar em sintomas, como ansiedade e depressão. Dizem que o corpo fala num sintoma físico, eu costumo dizer que a Sombra silencia no sintoma. Justamente por ser desconhecida têm potencial para paralisar sonhos, minar relacionamentos, impedir um propósito e vamos chamar de “destino”, como diz Jung.

 

{ © Essencias Florais – FES Flower Essences Service – Florais da California – Imagem Cedida para Divulgacao de Produtos}

Essências Florais – O que significa “Projetar a sombra”?

Rosângela Teixeira – Segundo Jung, projeção é “sempre o Inconsciente ativado que procura expressão” Projeto quando me sinto incapaz de olhar para meus próprios defeitos, então passo a vê-los no outro. É como um espelho: de todos os possíveis defeitos que uma pessoa possa ter, nenhum me irrita mais que a arrogância, essa irritação exagerada pode ser o reflexo daquilo que não consigo ver em mim. Por isso, é sempre bom prestar atenção nas coisas que nos tiram do sério, pois em geral dizem mais sobre nós do que podemos supor. A grande questão da projeção é que corro o risco de nunca me relacionar com o outro e sim com um aspecto meu. Com o tempo, as projeções e uma maior consciência vão me fazer perceber que me relaciono apenas com uma única pessoa: eu mesmo! É muito cruel deixar que o outro carregue o meu inconsciente. Se nem eu dou conta dele, como “peço” ao outro que o faça isso por mim? Podemos passar uma vida nos relacionando apenas através das projeções, sem descobrir quem é o outro de verdade, afinal, todos os relacionamentos, absolutamente todos, começam na projeção.

Essências Florais – Você pode dar alguns exemplos da terapia floral apoiando o trabalho interior de integração e aceitação da Sombra?

Rosângela Teixeira – Vou dar um exemplo bem recente: rapaz, 30 anos, com relacionamentos bastante conflituosos, onde a raiva é a emoção que comanda a dinâmica das relações. Veio de um ambiente familiar também de muitas brigas na infância. Chegou, como quase todos, culpando as namoradas. Quando perguntei por que ele atraía repetidamente aquele tipo de situação, não soube responder. Nunca havia parado para pensar nisso. Estava vivendo a vida no piloto automático, totalmente dominado por sua Sombra (raiva) e pelas vivências da infância. Expliquei que a “escolha” era de um aspecto sombrio dele. A fórmula floral que continha Echinacea, Mariposa Lily, Baby Blue Eyes, Deerbrush, Black Cohosh, Pine, Chestnut Bud entre outros, trouxe a seguinte consciência; “Eu não quero isso pra mim”, ele disse ao retornar. O contato com a Sombra possibilita escolhas. Um outro caso é o de mulher que trouxe a queixa de uma fala bastante impositiva, muitas vezes agressiva que tinha sido o grande empecilho em seus relacionamentos . Hoje aos 59 anos, ela estava completamente sozinha. Tinha perdido a mãe aos 6 anos e o pai sempre foi frio e distante. A terapia floral trouxe à consciência uma grande ferida, a da rejeição. Vervain, Heather, Splendid Mariposa Lily, Baby Blue Eyes, Evening Primrose, Deerbrush entre outras essências, foram, aos poucos, mostrando que a dor da rejeição tinha deixado nela um medo enorme de se relacionar, por isso o melhor sempre foi provocar mais rejeição, afinal a Sombra “adora”  repetir o script familiar.

Rosângela Teixeira é psicóloga, especialista em Terapia Floral pela FACIS / IBEHE – SP; Facilitadora autorizada pela Healing dos Florais de Bach;  Practititioner certificada e professora autorizada pela Flower Essence Society – dos Florais da Califórnia. Professora e idealizadora dos workshops: “A Terapia Floral no Alívio dos Transtornos de Ansiedade” e “Transtorno Bipolar do Humor: Cuidando da Estabilidade do Humor com as Flores”, “Sombra I, Uma Vida Não Vivida”, “Sombra II, Eu Quero Um Amor Que Seja Meu”.

Créditos: Fotos de Flower Essences Society – FES – dos Florais da Califórnia